Amor, a Flor da Vida
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Jun 23, 2024
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Sem dúvida, há perguntas que atravessam gerações, sopram nos corações de todas as épocas, entre as quais: O que é o amor? De onde vem? Como reconhecê-lo?
Quantas vezes vemos a afeição nascer tão sutil quanto o sopro tênue que varre as brumas das ondas de pensamento.
Por certo, sentimos sua presença quando habita em nós, ou melhor, quando nosso coração habita o afeto, ainda que por um breve instante. Um clarão súbito que aquece o peito e é ele mesmo a luz dos olhos da alma.
E, se o negarmos, proclamando nunca tê-lo conhecido, revelamos que já o conhecemos, pois só se pode negar aquilo que se pode conceber,. ainda que nas profundezas mais esquecidas do coração, lá ele está.
Encontramos o que chamamos de amor também nos gestos simples da vida cotidiana, um sorriso espontâneo, o canto dos pássaros ao despontar de um novo dia regado de esperança, na suavidade de um toque de um abraço que pode dizer mais que mil palavras, ou mesmo na paciência sublime de quem verdaderamente escuta sem pressa, atencioso, cuidadoso.
E ainda que o tenhamos chamado por outro nome, como compaixão, amizade ou atração. Lá está ele, tecendo silenciosamente seu destino em fios que suportam o peso do tempo, como um rio debaixo da terra que insiste em fluir para cima para matar a sede dos cansados e correr de volta pro oceano.
Mas e quando acreditamos que o amor se ausenta? Um aperto na garganta, um palco vazio que nenhum teatro do pensamento consegue preencher. Nossos corações murmuram angustiados, afinal, “Onde está o amor? Por que nos abandonou?” E da angústia surge a força necessária que nos impulsiona para procurá-lo, como uma ovelha em busca de seu amado pastor.
O amor de jardineiro
Certa vez, o mestre disse ao seu discípulo:
“Observa o bom jardineiro a cuidar das flores. Ele não espera retribuição, mas se alegra ao vê-las desabrocharem diante do céu. Assim é o amor verdadeiro, não diminui quando se doa, aumenta.
Aquele que ama como o bom jardineiro ama o jardim, doando-se sem ajuntar pra si, descobre o único tesouro que se multiplica ao ser repartido. Pois o amor é água viva, precisa fluir para permanecer sempre puro.
O cuidado que dedica a pequena flor, recebe ele mesmo das profundezas da terra. Em seu regaço, a fonte não é rica “apesar de lhe dar tudo”, é rica justamente porque “dá tudo”. O que é o medo da necessidade, senão a própria necessidade?
E o bom jardineiro que aprendeu este mistério já não separa o dar do receber, já descobriu que são o mesmo movimento.
Quem rega as flores sem esperar gratidão, a si mesmo floresce. Quem nutre a terra sem pedir recompensa, é sua própria alma que se nutre.
O cuidado dedicado do amor verdadeiro é o mais generoso dos atos e o mais abundante dos tesouros. Doa tudo de si mesmo, por isso mesmo, tudo possui. Esvazia-se completamente e, justamente por isso, transborda eternamente.
O discípulo, em seguida, perguntou: “Mas onde posso encontrar tal flor em que posso me alegrar? Nasce ela no jardim dos meus pensamentos? Ou no tilintar dos dias que se vão?
O mestre respondeu: “Essa flor perente nasce esbelta, delicada e perfumada quando somos coerentes com nossa natureza”. O jardineiro que é bom jardineiro, certamente verá a flor surgir para lhe alegrar.
É o Grande Jardineiro quem planta a sua semente, que nasce no escuro, que cresce na luz.
Não se pode exigir que ela se erga à nossa vontade, mas podemos nos alegrar quando ela desabrochar. Assim, ao contemplá-la com reverência, vê-se o próprio jardineiro similar a ela.