O silêncio dos amáveis
date
Nov 14, 2024
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Arte
Poesia
Caraumã
summary
Poema sobre o amor silencioso e a gratidão à vida, o silêncio dos amáveis como canto da alma e do espírito.
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O Silêncio dos Amáveis
- Dedico às pessoas amáveis, doces e silenciosas… tão raras.
[…] Se eu morrer ouvindo o silêncio dos amáveis, Sem ter compreendido o mistério que eles guardam, Sem saber porque seus gestos calados são tão cheios, Peço que, mesmo se sentirem o pranto nascer na voz, Que não se inquietem, não perturbem vosso silêncio. Que vossos olhos sejam o caminho da minha alma, O leito dos igarapés que generosamente dão caminhos à vida, E onde tantas vezes saciei minha sede e molhei meu rosto, Para seguir em frente. Se o destino quis que eu partisse assim, Sem nada entender, assim está certo. Ainda que meu silêncio nunca se torne um canto como o vosso, E do meu coração, um exílio em liberdade, tão livre quando os seus. Uma vez, julguei que devia haver mais, Que o amor devia ter palavras ou promessas. E com barulho, silenciei quem me foram amáveis e verdadeiros. Encobri o que o sol e a chuva sabem desde o princípio. Eles, que não precisam de mais do que tem, não pedem mais do que recebem. E, assim, a luz do sol ganhou seu rosto para acariciar, A chuva teve suas mãos para molhar, sem ver o tempo passar. E o vento que com seus cabelos sempre brincou. Consolaram-me com o calor da terra sob os meus pés curiosos, E eis que a sombra das árvores se ofereceram sem nada de mim esperar, Porque sabem, como sabem os pássaros, que o amor voa livre, E que a vida não me deve nada, mas eu tudo devo à Vida. Se eu morrer ouvindo o silêncio dos amáveis, Será porque, nesse momento, estive distraído. Nesse instante, senti-me, outra vez, presente, vivo. Se eu morrer ouvindo o silêncio dos amáveis, Guardarei em meu silêncio esse momento, Como se já não houvesse mais nada a dizer, enfim. O silêncio será tudo, e tudo bastará Distraído, seguirei dormindo, E sonhando continuar ouvindo O doce silêncio dos amáveis…
~ J. Caraumã. Reflexões em 14 de Novembro de 2024.