A bondade respira

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Nov 6, 2024
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Arte
Poesia
Caraumã
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Pequena reflexão sobre a bondade espontânea da natureza e do ser humano, um dom que se doa sem pedir, como luz, chuva ou sombra no caminho.
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Fonte: “Bondade, desenho a lápis” (2019), J. Caraumã.Fonte: “Bondade, desenho a lápis” (2019), J. Caraumã.
Fonte: “Bondade, desenho a lápis” (2019), J. Caraumã.
A manhã se derrama e a luz tênue toca a relva molhada.
O orvalho desliza a ponta das folhas como a nascente de um igarapé, e cada gota espelha um céu minúsculo, um pedaço do mundo dado, sem preço.
O vento vem e passa, mas não cobra passagem à folha que se balança no ritmo do seu sopro.
Os pássaros não perguntam o porquê de seu canto, porém o oferecem, em tributo à madrugada, como quem conhece algum importante segredo. Não se atrasam, cantam na hora certa.
Tudo se doa, como a sombra de uma árvore que não escolhe quem abriga sob sua sombra, ou a água de um rio que nunca hesita em repartir, ainda que atravesse entre pedras e margens, livre e sem dívida. Ainda que não conheça o próprio nome, mas conhece bem o caminho do mar para desaguar.
E ainda que o sol reine como o leão, levanta-se também como funcionário cuidadoso para a todos servir com luz, e em seus gestos de sol poente, despe-se de sua imponência todos os dias, para que vejamos também outras luzes, para que saibamos nascer no silêncio, e crescer na luz, como a Lua. E que multipliquemos como suas formas e saibamos renascer eternos.
O coração que aprende o ritmo da natureza, descobre, creio eu, em si mesmo e na natureza, um pequeno espelho, o eterno que vê o próprio rosto, na imagem da bondade que vem de graça e habita em nossos pequenos atos cotidianos, inesperada como o voo das borboletas, silenciosa como a terra que bebe chuva e devolve rios e mares, eterna como próprio amor.
O momento respira, e o planeta ensina, a melhor das dádivas não pesa, não tem nome, não demora, não se apressa.
Uma mão que se estende sem motivo, um olhar que encontra, de leve, e acalma; um pequeno ato, e o ato um pequeno milagre.
A bondade, bela, justa e verdadeira, eis um dom que floresce entre os juncos, que se eleva com forte raiz mesmo entre os desertos, cresce delicada entre as pedras e é o maior dos presentes que se possa oferecer.
É um a luz na escuridão, e é ela mesma também a escuridão diante da luz.
É a nós mesmos habitando a palavra União.
~ J. Caraumã. Reflexão em 06 de novembro de 2024.
 
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